Sezostrys Alves da Costa: Anistia para os camponeses do Araguaia!

CAMPONESES DO ARAGUAIA – COMISSÃO DE ANISTIA JULGARÁ 187 REQUERIMENTOS DE ANISTIA DE PERSEGUIDOS NA GUERRILHA DO ARAGUAIA.

 Por Sezostrys Alves da Costa*

camponeses do araguaia

Em caravana composta por mais de 30 pessoas, dentre eles os filhos, viúvas e camponeses vítimas de perseguições sofridas durante a Guerrilha do Araguaia viemos até Brasília para participarmos da 20ª Caravana da Anistia, que é parte da programação da Semana de Aniversário da Lei de Anistia de 1979, onde fará 36 anos em 28 de Agosto.

Na oportunidade, a Comissão de Anistia do Ministério da Justiça deverá julgar 187 requerimentos de anistia de Camponeses e Camponesas que sofreram perseguições das mais variadas e que se pode imaginar, durante os anos que duraram o conflito armado nos sertões araguaianos.

Passados 42 (quarenta e dois) anos da Guerrilha do Araguaia, as centenas de camponeses sobreviventes daquele sangrento conflito armado, em que brasileiros perseguiam brasileiros e torturavam seus filhos, matando e desaparecendo com os corpos, de militantes, e também de dezenas de camponeses, o que ainda hoje é notório ver no olhar de qualquer um dos que viveram aqueles amargos momentos, o quanto foram fortes e cruéis, os níveis as atrocidades que os Militares impetraram aos moradores que já habitavam e cultivavam a lavoura pra sustentarem suas famílias naqueles sertões e atualmente só os restam as sequelas e situações de vida com alto índice de vulnerabilidade social.

Vivendo num verdadeiro estado de sitio durante vários anos, camponeses foram na sua maioria (deles ainda na adolescência), retirados de suas posses, seus lares, roças e familiares, sendo levados aos centros de prisões, em Xambioá, Casa Azul, Bacaba, Araguaína, Presídio do Itacaiúnas, 52 BIS, enfim, foram todos retirados de suas localidades e isolados do apoio à Guerrilha (Militantes) em prisões, sendo submetidos aos mais ínfimos tipos de torturas, dentre elas: o choque elétrico, agressão física, moral e o pau de arara, e muitos, sem nenhuma opção, senão a continuidade da escalada de torturas, se submeteram ao subterfúgio de guiarem tropas militares matas adentro, como condição de liberdade e possibilidade de ao menos acessar seus familiares, se tornando um inimigo dos melhores amigos (povo da mata), o que pra eles feria suas almas.

Outros sequer tinham essas oportunidades, ficaram por meses presos, torturados, e ao fim, liberados para serem cuidados por familiares até suas mortes, pois saiam sem condições algumas de continuarem suas atividades laborais por insuficiência de capacidade física, em decorrência das torturas sofridas, “Dona Marcolina e Dona Adalgisa que nos digam, como foi cuidar dos esposos debilitados o resto de suas vidas”, centenas deles não tiveram mais condições de garantir o sustento de suas famílias, obrigando assim, filhos e filhas se tornarem adultos tão cedo, pra garantirem a sobrevivência dos demais irmãos e familiares. Muitos destes adolescentes, não tiveram sequer, meios para irem a uma escola, para ao menos terem alfabetização, muitos sonhos de serem doutores, empresários, fazendeiros e até mesmo, professores, foram inviabilizados e não aconteceram na vida de centenas de brasileiros que ali residiam, a vida lhes impuseram a realidade que vivem hoje.

Tudo por conta da cruel realidade imposta naquele período, pelo regime ditatorial que nosso país viveu naqueles tempos.

E aqui no centro político do nosso país, estamos nós, na certeza de que a Justiça de Transição e a Democracia continuarão se consolidando, no sentido de ampliar os horizontes da aplicação da Lei 10.559/2002.

O Araguaia vive!

*Sezostrys Alves da Costa é presidente da Associação dos Torturados na Guerrilha do Araguaia e Secretário de Saúde de Palestina do Pará.

Fonte: Blog do Paulo Fonteles

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