Sessão Solene 90 anos da Coluna Prestes

ColunaPrestes

ColunaPrestes

A memória de um povo é a alma da Nação… A memória coletiva de um povo se constrói de forma um tanto arbitrária, diria Lima Barreto, sendo que os discursos tradicionais contribuem para essa construção, com determinados interesses. Hoje, nesta homenagem aos 90 anos da Coluna Miguel Costa – Prestes, vamos abordar de um ponto de vista popular aquele período rico de nosso país. Com este espírito o Legislativo brasileiro nesta sessão solene do Congresso Nacional dá sua contribuição ao resgate da memória de um dos momentos decisivos da história política do Brasil.

A Coluna Miguel Costa — Prestes – que acabou sendo conhecida nos livros de história simplesmente como Coluna Prestes – fez parte do chamado movimento Tenentista, um dos momentos mais destacados da oposição democrática à República Oligárquica de 1889 a 1930.

Três grandes vertentes de resistência propiciaram as condições objetivas para o surgimento e desencadeamento da grande marcha da Coluna: O levante do Forte Copacabana, em 5 de julho de 1922, o levante tenentista de 5 de julho de 1924, em São Paulo, e o movimento de solidariedade aos revoltosos paulistas articulado em 28 de outubro de 1924 em vários quartéis do estado do Rio Grande do Sul, entre eles o Batalhão Ferroviário de Santo Ângelo, comandado pelo jovem capitão Luiz Carlos Prestes, que posteriormente viria a se tornar senador da República de 1946 a 1948. Logo em seguida teve seu mandato cassado e recentemente o Senado – em sessão histórica – recuperou o mandato de Prestes e de vários outros parlamentares progressistas.

Na Revolta dos 18 do Forte – como ficou conhecida – jovens oficiais enfrentaram o poderio das forças governistas. Neste conflito desigual apenas 2 revoltosos sobreviveram: Eduardo Gomes e Siqueira Campos.

O segundo levante tenentista aconteceu em São Paulo, com a adesão da Força Pública Estadual, que obrigou o governador e chefe militar da região a abandonarem a capital paulista. O presidente Artur Bernardes decretou o estado de sítio e — numa atitude inédita – autorizou o bombardeio da cidade, que mostra suas cicatrizes até hoje para quem visita o Largo Santa Ifigênia. Os revoltosos conseguiram romper o cerco governista e se dirigiram para o interior até o Estado do Paraná.

Justamente em solidariedade ao movimento tenentista de São Paulo, os revoltosos gaúchos, a partir dos quartéis comandados por Prestes se unem a outros revolucionários como Antonio de Siqueira Campos, Osvaldo Cordeiro de Farias e João Alberto Lins de Barros, e iniciam sua cruzada libertadora que percorreria todo o país. No Paraná a coluna gaúcha se encontra com a coluna paulista, formando a famosa Coluna Miguel Costa — Prestes.

Este movimento galvanizou os setores insurgentes contra tudo o que a oligarquia brasileira da época representava: os impostos exorbitantes, desonestidade administrativa, falta de justiça, mentira do voto, amordaçamento da imprensa, perseguições políticas, desrespeito à autonomia dos estados, falta de legislação social, reforma da Constituição sob o Estado de Sítio, entre outras bandeiras libertárias. Quero destacar neste momento o papel das mulheres, que contra todos os preconceitos também pegaram em armas e prestaram relevantes serviços e apoio logístico aos revoltosos.

A Coluna Prestes percorreu uma distância de 25 mil quilômetros, atravessando 11 estados brasileiros do sul, sudeste, centro-oeste e do nordeste. Assim se transformou numa das maiores marchas militares da história mundial. O líder da revolução chinesa, Mao Tsetung cita em seus escritos militares a importância do exemplo que a Coluna Prestes significou para a Grande Marcha na China, de 1934 a 1935, manobra militar fundamental para a vitória da Revolução chinesa.

A saga da Coluna Prestes terminou invicta em 3 de fevereiro de 1927, quando Prestes e seus companheiros se embrenharam na Bolívia com 620 combatentes. Por sua vez Siqueira Campos se abrigou no Paraguai com 65 homens. Por não ter sido derrotada em toda sua trajetória ganhou a denominação de Coluna Invicta.

O fato é que a Coluna e sua memória animaram a oposição liberal e popular, enfraquecendo de morte a República Velha. A própria Revolução de 1930 – comandada por Getúlio Vargas e com a participação de muitos ex-tenentes – não poderia ter sido vitoriosa sem que o terreno fosse semeado pela Coluna Prestes e o tenentismo. Muitos dos avanços democráticos e sociais que vieram a ser conquistados posteriormente já estavam presentes nas bandeiras e programas daqueles jovens oficiais revolucionários.

O espírito da Coluna Prestes, senhoras e senhores, deve se manter vivo na combatividade da nossa juventude, por isso é importante que se conheça a história e se compreenda as mudanças e os avanços resultantes dos atos de coragem dos heróis da nossa Pátria. Assim, “a marcha segue nas lutas do povo, para fazer avançar o Brasil que a Coluna descortinou”.

Gostaria de agradecer em nome do Congresso brasileiro a presença de Maria Prestes, viúva de Luiz Carlos Prestes, de sua neta Ana Maria Prestes e demais familiares, de Yuri Abyaza Costa, neto de Miguel Costa; o esforço de Tatiana Lins de Barros, neta de João Alberto Lins de Barros que está a caminho desta sessão; de Nelson Persigo, primo de Cezario Pires Vargas; de Letícia Cabanas de Paiva Azevedo, neta de João Cabanas; de Cleiton Weizenmann, historiador que aqui representa o senhor Ezidro Pires Nardes, combatente da Coluna Prestes, que aos 104 anos não teve condições de viajar para participar dessa sessão.

Agradeço também ao apoio dado pela Fundação Mauricio Grabois, a várias outras entidades e movimentos populares e dos trabalhadores que tornaram possível a realização desta sessão solene que marca o início das comemorações dos 90 anos da Coluna Prestes em nosso pais.
Para encerrar, senhor presidente, homenagear a Coluna Prestes na figura do Cavaleiro da Esperança, parafraseando Pablo Neruda. “Nenhum dirigente comunista da América Latina teve uma vida tão trágica e portentosa quanto Luis Carlos Prestes”.

Vida longa à Coluna Miguel Costa – Prestes, que sua memória siga inspirando homens e mulheres de nosso país, para que sigamos, firmes na luta, defendendo o desenvolvimento, o avanço e a soberania.

Muito obrigada!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *