Seis anos depois de uma proposta apresentada pela Universidade Federal de Pernambuco, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) anuncia, finalmente, o tombamento dos jardins de Burle Marx no Recife. A decisão contempla o Jardim do Palácio do Campo das Princesas e mais seis das 24 praças por ele projetadas, inclusive a Praça de Casa Forte, uma das primeiras de sua criação, datada dos anos 30 do século passado. Exfuncionário da Prefeitura do Recife, Burle Marx assinou mais de 500 projetos de jardins públicos e privados no Brasil, inclusive os internacionalmente famosos jardins do Aterro do Flamengo, no Rio de Janeiro.
A importância de Burle Marx para o Recife é inestimável, entre outras razões porque permanece inspirando o melhor das concepções urbanas há oito décadas. Seu nome está associado ao ajardinamento público, desde seus primeiro passos, quando a cidade tinha algo em torno de 300 mil habitantes e já se mostrava carente de espaços que permitissem passeios e repouso, como já entendia o paisagista em 1935, quando era chefe do Setor de Parques e Jardins da Diretoria de Arquitetura e Construção da Prefeitura do Recife e apresentava o projeto da Praça de Casa Forte chamando atenção sobre a importância dos jardins para as civilizações.
Quando dispõe pelo tombamento dos jardins de Burle Marx, o Iphan carimba a importância histórica do trabalho de um dos maiores paisagistas brasileiros em todos os tempos, que transformou em oásis urbanos áreas alagadas, terras de despejo, espaços cobertos pelo matagal, viveiros de insetos. Com sensibilidade, visão artística e conhecimento de botânica, ele desenhou o melhor da nossa paisagem urbana, que permanece três gerações depois. Fazem parte desse patrimônio, além da Praça de Casa Forte, a Euclides da Cunha, na Madalena, a Praça do Derby, a Praça da República e o jardim do Campo das Princesas, e as praças Salgado Filho e Faria Neves, em Dois Irmãos.
Ao assumir o posto de diretor de parques e jardins, Burle Marx enfatizava a necessidade de embelezar a cidade dandolhe uma nova fisionomia. Chamava atenção para a riquíssima flora brasileira, onde poderiam ser encontrados os elementos necessários. “As ruas arborizadas quase que exclusivamente com fícus benjamim, além de resolver mal os problemas de arborização urbana, deixam uma impressão de pobreza de nossa flora, o que não é verdadeiro. Urge que se comece desde já a semear nos nossos parques e jardins a alma brasileira”, dizia o urbanista em 1935. Burle Marx deixou, assim, exemplos e lições que merecem toda a atenção dos dirigentes de hoje, particularmente no Recife, onde é possível se dar continuidade e expandir a perspectiva históricocultural do jardim público na vida da cidade. Temos ainda sobrevivendo à invasão devastadora dos carros muitos nichos que podem ser tratados como pequenos espaços urbanos civilizatórios em meio à selva de pedras.